O ciclo “Conta-me Uma Canção” regressou esta semana ao Teatro Maria Matos para mais duas noites inesquecíveis, num formato em que a partilha e a espontaneidade imperam e proporcionam uma experiência única e enriquecedora ao público presente.
 
No dia 16, Surma e TOMARA subiram ao palco para a segunda sessão da edição de 2024 do “Conta-me Uma Canção” perante uma plateia repleta de fãs e de amigos.

Os dois artistas optaram por interpretações conjuntas de todas as canções que definiram para o alinhamento, com a excepção de “Hemma”, de Surma, que Tomara cantou a solo e de “House”, de Tomara, cantada por Surma. O concerto abriu com “Bonança”, de Surma, seguindo-se Favourite Ghost (Tomara), Maasai e Huvasti (ambas de Surma). O alinhamento contou também com “A Revessa” e “Land at the Bottom of the Sea” (Tomara), “Tous Les Nuages” e “Wanna Be Basquiat” (Surma). Como resposta a uma das “figuras obrigatórias” do “Conta-me Uma Canção”, elegeram “Roslyn” como “uma daquelas canções que gostariam de ter composto, tendo a sua interpretação em uníssono apenas acompanhados por uma guitarra acústica, reforçado a sensibilidade que o original de St. Vicent & Bon Iver tem. A encerrar a noite, um tema de cada um – “For No Reason”, de Tomara, e “Acapella”, de Surma.
 
Entre canções, os multifacetados artistas partilharam experiências sobre a escrita de canções e a forma como se relacionam com os elementos da canção, músicas e letras, e de onde nasce a inspiração. Falaram também do peso que a imagem tem nos seus projectos, seja na fase de construção, seja quando a apresentam ao público Foi, assim, uma noite de partilha da magia que é a criação de canções.

No dia seguinte, a terceira sessão do “Conta-me Uma Canção” juntou Sérgio Godinho e Capicua, o primeiro, repetente no ciclo, a segunda em estreia no conceito. Uma dupla dalguma forma natural, com universos que se cruzam e a singularidade que cada um dos artistas imprime no seu trabalho. O espectáculo abriu com “Parto Sem Dor”, que é talvez a maior aproximação da obra dos dois artistas: usando o original de Sérgio como refrão, Capicua juntou uma letra sua para o álbum Madrepérola. Uma canção que, sendo de cada um, é também dos dois. Seguiu-se “Homem dos Sete Instrumentos”, por Sérgio com Nuno Rafael à guitarra, e “Medo do Medo”, em que Capicua foi acompanhada por Luís Montenegro. Estavam assim apresentados os protagonistas da noite e os seus acompanhantes.
 
Comunicadores natos, a conversa entre Sérgio e Capicua fluiu de forma orgânica. Os artistas partilharam com o público a antiguidade da sua relação musical, que remonta ao primeiro álbum de Capicua, quando samplou Sérgio com a sua autorização. Falou-se, como vem sendo hábito neste formato, da escrita de canções, das semelhanças e diferenças entre o rap e a canção, da escrita de livros, romances e poemas, de escrever para outros – que rendeu uma versão de “Tudo No Amor”, canção que Sérgio escreveu para os Clã, cantada pelo seu autor.

As duas vozes voltaram a juntar-se para “Grão da Mesma Mó”, do último álbum de originais de Sérgio, seguindo-se momentos a solo. Capicua cantou “Circunvalação” e Sérgio apresentou a primeira versão da noite ao interpretar “O Pequeno Ditador”, do álbum “Mão Verde II” da artista, antes de cantar a sua “Primeiro Gomo da Tangerina”, numa incursão ao universo infanto-juvenil que os dois têm percorrido. Capicua cantou “Casa no Campo”, Sérgio cantou “O’Neill (Alguns Poemas Com Endereço)” e Capicua acalorou a sala com “Gaudí”.  A segunda versão da noite foi uma reinterpretação de “Que Força É Essa”, de Sérgio, pela rapper, adaptando a letra para falar da sobrecarga histórica de trabalho que as mulheres acumulam e alertando para esta desigualdade

Ninguém na plateia terá estranhado as intervenções de carácter sócio-político dos cantores. Ambos conhecidos pela sua música interventiva, falaram do medo, da guerra que assola o mundo em tantas frentes, do crescimento dos populismos intolerantes, da importância dos valores de Abril e da necessidade de construir activamente a liberdade no quotidiano. Juntos cantaram “Os Vampiros”, de Zeca Afonso, acrescentando “Jugular” de Capicua, e terminaram com “O Elixir da Eterna Juventude” numa interpretação partilhada. Com uma ovação de pé, regressaram ao palco para uma versão de “Liberdade”, que abriu com o poema “Revolução” de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Vachier & Associados
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